segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Um poema, um pensamento, o sonho e o lento acordar


"Não dorme sob os ciprestes,

Pois não há sono no mundo.

O corpo é sombra das vestes

Que encobrem teu ser profundo

Vem a noite, que é a morte,

E a sombra acabou sem ser.

Vais na noite só recorte,

Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro

Tiram-te os Anjos a capa

Segues sem capa no ombro,

Com o pouco que te tapa.

Não tens vestes, não tens nada

Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda Caverna,

Os deuses despem-te mais,

Teu corpo cessa, alma externa,

Mas vês que são teus iguais.

A sombra das tuas vestes

Ficou entre nós na Sorte.

Não estás morto, entre ciprestes.

Neófito, não há morte.

Então Arcanjos da Estrada

Despem-te e deixam-te nu."

Fernando Pessoa

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