segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Um poema, um pensamento, o sonho e o lento acordar


"Não dorme sob os ciprestes,

Pois não há sono no mundo.

O corpo é sombra das vestes

Que encobrem teu ser profundo

Vem a noite, que é a morte,

E a sombra acabou sem ser.

Vais na noite só recorte,

Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro

Tiram-te os Anjos a capa

Segues sem capa no ombro,

Com o pouco que te tapa.

Não tens vestes, não tens nada

Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda Caverna,

Os deuses despem-te mais,

Teu corpo cessa, alma externa,

Mas vês que são teus iguais.

A sombra das tuas vestes

Ficou entre nós na Sorte.

Não estás morto, entre ciprestes.

Neófito, não há morte.

Então Arcanjos da Estrada

Despem-te e deixam-te nu."

Fernando Pessoa

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Procuro...


Ando à deriva. Procuro a entrada da caverna. Mas não é uma caverna qualquer. Procuro a caverna que me dará acesso a um sítio único, onde o espaço-tempo se dissocia, restando apenas o espaço. Aí, o tempo pára, a iluminação é escassa e ainda assim é como se tivesse sido acolhido no interior de Gaia, deusa da Terra. Finalmente poderei preparar-me para minha busca. O caminho será longo e cheio de obstáculos, onde caminharei à mercê dos 4 elementos. Será perigoso? Será que consigo? A dúvida permanece. Apenas o tempo o dirá.


"V.T.R.I.O.L"

O Regresso


Tal como a Fénix, este blogue renasce das cinzas a que estava remetido.


Depois do Caos... a ordem!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A Saudade


É curioso como situações tão banais do nosso quotidiano podem-nos fazer reflectir sobre temas tão fascinantes como, por exemplo, a saudade. O que é a saudade? De onde vem? Porque é que a sentimos?
Etimologicamente, esta palavra tem a sua origem na palavra latina solitatis, que designa solidão. Este sentimento surge das profundezas do nosso ser e alimenta-se da ausência de algo ou alguém. Ausência essa que pode e deve de ser encarada como uma forma de solidão. Mas o que me fez realmente reflectir nesta temática foram as sábias palavras proferidas por um amigo e colega de prática. Segundo ele, a saudade não deve de ser encarada como um sentimento negativo, aliás é bom sinal possuir a saudade. Pois a saudade faz-nos relembrar apenas os bons momentos e as coisa que gostamos. Ter saudade é provar a nós próprios que temos coisas boas para recordar. E eu, humilde aprendiz da Vida, não posso deixar de concordar...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A Morte na Perspectiva Cristã


Seguindo a sugestão do José Ruah, começo hoje o ciclo de textos sobre a visão da morte nas várias religiões. Na religião cristã, o tema da morte está intamente relacionado com o Jesus de Nazaré. Defende esta crença que Jesus venceu a morte rescucitando ao 3º dia, abrindo assim as portas para o seu Reino. Aqui gostaria de fazer um pequeno "parêntesis". Na minha opinião, a morte traz dois problemas incontornáveis: a cessação da existência e o esquecimento. Vencer a morte pode ser também sinónimo de prevalência da memória dos seus ensinamentos, actos, etc.
Para o cristão a morte não é o fim, não se trata de uma cessação mas sim da separação da existência, com a passagem do tempo para a eternidade. A morte traz consigo a cura de todas as doenças físicas e espirituais, assim como o término de todos os pecados. É, no fundo, a salvação final e a ascensão para junto do Criador. Gostaria de terminar este texto com uma frase de Eclesiaastes publicada na Septuaginta (Eclesiastes 7:1):

"Melhor é a boa fama do que o melhor ungento, e o dia da morte, melhor do que o dia de nascimento de alguém."

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Agradecimento


Bom este blogue está um pouco mais internacional dado que já foi referenciado noutro blogue. O Devaneios de Fim de Tarde é um sítio que aconselho a visitar, pois apresenta temas muito variados e muito divertidos. Queria também aproveitar para fazer um pequeno comentário à autora do mesmo. A Mana Jóia (carinhoso nome de faculdade cuja origem é demasiado extensa para ser aqui postada) é alguém que me marcou muito pela positiva. Conheci-a no meus primeiros dias de faculdade (na altura como caloiro) e desde cedo ela se prontificou para me auxiliar naquela nova vida. Desde então, muita coisa se passou, partilhámos muitas horas de estudo naquela biblioteca, muitas horas a dizer porcaria (depois de 8h intensas de estudo pouco ou nada se pode exigir do cérebro), muitas conversas durante as aulas de fundamentos de química das 13h30... Enfim, seriam precisos dias afim a escrever para poder relatar todas as peripécias que vivenciamos juntamente com outros amigos e colegas. Mas o que é certo é que se gerou uma amizade para a vida, uma relação verdadeiramente de irmãos. Por esses motivos e muito mais, gostaria de apenas dizer:

Obrigado Mana Jóia! :)

E, libertando um pouco o "bichinho" da bonita tradição académica...

E PARA JÓIA NÃO VAI NADA, NADA NADA?????

TUUUDOOOOOOO!!!!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Solidariedade


Na tradição cristã da religião, a vida solidária recebe o nome de fraternidade, ideia fundada pelos cristãos primitivos, sob a perspectiva de uma sociedade de irmãos, filhos do mesmo Deus, visto como Pai, conforme lhes ensinara Jesus. A sociedade de irmãos funda a igualdade na relação entre os seres desiguais, na medida em que os vincula a um propósito comum, assegurado pela crença no Deus único. É no âmbito da sociologia que a expressão recebe o nome de solidariedade, para caracterizar os modelos descritivos e normativos de sociedades comunitárias, dentro das quais os bens são repartidos para o usufruto comum e as acções são colectivamente praticadas, em regime de cooperação mútua. O que é certo, é que esta relação "dar sem querer receber" não é assim tão linear. Analisando o conceito em absoluto, na Natureza nada se dá em troca de nada e, portanto, essa atitude não fará parte da nossa natureza. De facto o nobre acto solidário carece sempre de uma gratificação egoísta. Mas atenção!! Não estou de modo algum a insinuar que todos agimos sempre em proveito próprio. Senão estaria a ir contra os meu princípios. Quando somos solidários com alguém esperamos sempre, consciente ou inconscientemente, uma gratificação egoísta. Mas esta pode ser de várias ordens: não só material (dinheiro, imóveis, etc), mas também moral (Por exemplo: porque nos sentimos bem com isso). Um outro exemplo é o de alguém que segue os ensinamentos da sua religião. Essa ajuda o próximo porque pode sentir-se bem com isso e porque contribui para poder ter uma melhor "vida" após a sua morte.
Apesar deste nosso egoísmo inato, eu acredito na solidariedade e acho que todos nós devemos de fazer um esforço para a praticar. Quer sejamos crentes nalguma religião ou não.

terça-feira, 26 de maio de 2009

O Banqueiro Anarquista

Seguindo o conselho de um grande amigo meu, decidi ler o livro "O Banqueiro Anarquista" do grande Fernando Pessoa. Meu deus... se não soubesse que o autor faleceu em 1935, diria "a pés juntos" que este livro tinha sido escrito recentemente. É de uma actualidade estonteante. O livro retrata uma conversa de café na qual o banqueiro explica o facto de ser anarquista. Mas não é um anarquista como os outros. Ele é um verdadeiro anarquista, tanto teórico, como prático. Ao longo do texto, ele descreve o seu percurso anarquista, desde que começou a propor-se a seguir este caminho até ao desenvolvimento do "método anarquista". Concluirá o banqueiro que todos devem trabalhar para um mesmo fim, mas separados, de forma a não sucumbirem à pressão social, podendo tornar-se livres do dinheiro, da sua influência e força, através da aquisição da maior soma possível. Isto claro sempre evitando tiranizar os demais ou criar novos tipos de "tiranias". O Banqueiro é alguém que vive de acordo com as suas conclusões e não alguém que conclui de acordo com a sua vida. Trata-se de um texto de um lucidez ímpar, excepcionalmente bem argumentado e justificado, que nos alerta para uma série de temas que serão motivo de alguns post's aqui no blogue. Mas palavras para quê? O melhor mesmo é lerem o livro.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O Assalto


Bom, hoje decidi aligeirar um pouco a coisa e por isso trago-vos uma história um pouco diferente.
No outro quando ia para o trabalho, ouvi num daqueles programas da manhã da rádio que costumo acompanhar, uma história no mínimo... diferente. Nos EUA, um jovem de 17 anos decidiu assaltar um supermercado em plena luz do dia. Ele tinha tudo: roupa preta, gorro preto, luvas pretas. Aproveitando uma altura em que a loja tinha poucos clientes, entrou e pronunciou a célebre frase:
"Isto é um assalto!!!"

Quando o empregado da loja se preparava para lhe entregar o dinheiro das caixas, reparou que a "arma" que o assaltante dizia ter (que se encontrava escondida no seu casaco) tinha contornos muito irregulares para uma arma de fogo. O empregado, apercebendo-se disto, encheu-se de coragem e dominou o assaltante. Qual não foi o seu espanto quando viu que a "arma" era na verdade uma banana. Posto isto, o empregado pôs o assaltante num armário e chamou a polícia. A parte mais curiosa desta história é que quando a polícia chegou encontrou apenas o assaltante dado que, numa tentativa de destruir provas, este comeu a "arma do crime". Por sua vez, este empregado era uma pessoa devidamente informada e prevenida para estas eventualidades. Aliás quase que ponho as minhas mãos no fogo em como ele viu este vídeo formativo.


quarta-feira, 20 de maio de 2009

O Poder

Hoje gostaria de reflectir um pouco sobre o Poder. Fazendo uma breve incursão à "autoestrada da informação", rapidamente encontrei a a definição deste conceito que diz o seguinte:

Poder
(do latim potere) é, literalmente, o direito de deliberar, agir e mandar e também, dependendo do contexto, a faculdade de exercer a autoridade, a soberania, ou o império de dada circunstância ou a posse do domínio, da influência ou da força.

Mas não é nem de etimologia, nem de definições que este post pretende tratar. O que eu acho simplesmente fascinante é o efeito que o Poder tem nas pessoas. Este tem a tremenda capacidade de corromper o seu "utilizador" e não me refiro apenas às situações em que a pessoa detém efectivamente o poder, ou porque tem uma posição de chefia, ou porque se trata do seu superior hierárquico, etc. O pior é que na grande maioria das vezes trata-se de um poder relativo, ilusório. Muitos são os exemplos que posso descrever aqui para demonstar a afirmação anterior. Por exemplo (mais uma vez recorro ao exemplo das artes marciais), quando o professor responsável pela classe não vem, ou chega mais tarde, o início da aula e os exercícios de aquecimento ficam a cargo do aluno mais velho ali presente. Ora tenho assistido a transmutações notáveis. O "peso" desta responsabilidade é tal que, subitamente, o aluno mais velho adquire uma posição autoritária, quase sempre "coberta" de arrogância e, como detém o poder, já não necessita de dar o exemplo, bastando ordenar. Quem diz nas artes marciais, diz nos empregos do nosso quotidiano. Tenho que reconhecer que as barreiras que nos separam do abuso (de poder) são muito difusas, quase imperceptíveis. Adquiri esta percepção aquando dos meus tempos de estudante universitário ao exercer a Praxe (que será motivo de um post lá mais para diante). A facilidade com que se passa da Praxe para o abuso é estonteante.
Como ser imperfeito que sou, não sou ninguém para julgar as atitudes de quem quer que seja. em tão pouco quero parecer moralista. Mas o que é certo é que nos encontramos rodeados de casos em que pessoas, munidas desta ilusão de poder, discriminam, abusam, maltratam os seus semelhantes. É algo que vale a pena reflectir e averiguar se por vezes não o fazemos...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Caminhando pela Porta que não tem Porta


Tal como prometido, hoje trago novamente o tema da "Porta que não tem Porta". Mumon Ekai (1183-1260), compilou os mais famosos koan ( problemas que o discípulo do zen deverá resolver, mas cuja solução não se atinge pelo pensamento intelectual) e no seu livro Mumonkan - a Porta sem porta, podemos encontrar este excerto:

O grande caminho não tem porta,

Milhares de estradas lá vão dar.

Aquele que atravessa essa porta sem porta

Caminha livremente entre o céu e a terra.

Bom tal como os próprios koans, eu serei um pouco paradoxal no sentido em que tentarei comentar este poema recorrendo ao pensamento racional. Para começar, uma porta sem porta só por si já dá que pensar, pois se não tem porta não é uma porta. Confesso que este conceito foi algo que me custou a assimilar a primeira vez que li este poema. O autor deste koan, descreve um estado diferente do normal, onde podemos compreender a Natureza desde a mais ínfima partícula ao maior dos cosmos.Este estado, vulgarmente conhecido como Iluminação prevê uma omnisciência tal, capaz de ser comparada à dos deuses. Saliento desde já que não foi esse o sentido com que eu fiz referência a esta "porta" neste post. Pretendia sim demonstrar que sempre que ultrapassamos dificuldades, melhoramo-nos a nós, lapidamos um pouco mais os nossos defeitos é como se transposessemos uma porta invisível, que não se vê mas que sabemos que a passamos. E claro tal como vem referido no poema muitos são os caminhos. Uns escolhem o caminho oferecido pelas artes marciais, outros o oferecido pela maçonaria e certamente outros escolherão outros caminhos que irão convergir no mesmo ponto do que os anteriores.


segunda-feira, 18 de maio de 2009

O Homem no Antigo Egípto


Não podia terminar este tema de outra forma senão com uma pequena conclusão da minha autoria ao mesmo. Ao longo de todo o texto salienta-se o facto de o homem ter de viver segundo um conjunto de regras impostos pelos dogmas da sua religião de forma a conseguir a absolvição após a sua morte. Por outro lado, o(s) Deus(es) não aprece com um ser intolerante, que não perdoa e que está ali apenas para castigar. Aparece sim como um ser que proporciona um grande bem-estar e conhecimento sobre tudo. O conceito de "Deus Temeroso", que perdura até aos dias de hoje, existe desde os primórdios do homem que interpretava determinadas acções da Natureza como um castigo divino devido às suas acções incorrectas. Mas nem todo o homem tinha este direito. Apenas o faraó e as pessoas mais abastadas possuíam meios para serem enterradas num túmulo cujas paredes eram cheias de encantamentos que guiariam o morto para a outra vida. A restante população, aquando da sua morte era enterrada no deserto, o qual se "encarregava" da sua mumificação.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

As nove câmaras


Segue-se hoje a continuação do julgamento de Osíris. O morto após ter sido absolvido, inicia a sua jornada pelas nove câmaras Ao entrar na primeira câmara, agora já como Hórus, são-lhe exaltadas e glorificadas as suas virtude. Na segunda câmara, mostram-lhe que a sua cabeça é iluminada pelo deus e ilumina o deus da Lua. Na terceira câmara, o seu corpo é enfeitado com ouro e cobre fino e é-lhe também devolvido o uso dos olhos. Na quarta câmara, à medida que o seu corpo vai sendo "endeusado", mostram-lhe os seus braços solidamente fixos, o seu coração satisfeito e animado pelas divindades, o seu mundo inferior equiparado ao próprio céu infinito; no umbigo é o Reino dos mortos e o morto é deus. Os quadris, os joelhos, as pernas (que conduzem ao caminho da felicidade) e os pés são tratados na quinta câmara. Ao chegar à sexta câmara, o seu corpo é embelezado com trajes de pureza; é alimentado e guiado à herança de Rá. Os seus pés são purificados na bacia de prata, come o pão consagrado no Altar pelos pais divinos. É então recebido por Nut e Orion que lhe falam dizendo: "Que o tomemos nos braços, tu e eu, hoje, enquanto os deuses o glorificam". Atinge a sétima câmara onde Anúbis recebe-o trazendo a sua mortalha. O morto purifica-se no Lago da Perfeição, bebe o Leite Sagrado e a Água de , lava os pés sobre a pedra sagrada, à margem do Lago dos Deuses, e prossegue para a oitava câmara. Aqui, sob os desígnios de Hórus e Thot, conhece o princípio e o fim, percorre o Grande Caminho do Céu e, como deus, atravessa o Portal do Grande Templo, alcançando assim a nona Câmara. O ar é puro e pode ver os seus inimigos que foram derrotados. Osíris faz-lhe um discurso prestando contas de tudo o que fez em honra e glória de Osíris e pronuncia as palavras de Potência que se ocultam no seu coração.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O julgamento de Osíris

Tal como prometido, retomo o tema da morte. O culto dos mortos assim como a preocupação com o que há depois da morte é algo que se perde na imensidão do passado. Ainda que não seja um grande especialista na área, não posso deixar de expressar o meu fascínio pelo Julgamento de Osíris, descrito no Livro dos Mortos.
Após a morte do indivíduo e, depois de todo o processo de mumificação, este inicia a sua viagem para a outra vida. O morto embarca na barca de que o leva até à entrada do Amenti (morada de Osíris) onde é apresentado a Maat (grande deusa com duas plumas na cabeça que simbolizam a verdade e a justiça). Dela vai depender a sua salvação. Agora pode iniciar o seu périplo pelas 42 câmaras onde 42 juízes irão julgar os seus pecados. O morto terá que provar a cada um dos juízes que viveu de acordo com os mandamentos da religião. Ao ultrapassar as 42 câmaras, é recebido por Hórus, filho de Osíris e de Ísis. Ele também quer ser apresentado como filho de Osíris, confundindo-se ou unindo-se ou ainda fundindo-se a Hórus. Eis que chega finalmente à derradeira câmara. A câmara do Tribunal. Aqui o seu coração é tomado por Anúbis e Hórus e colocado num dos pratos da balança. No outro prato estará a Pena de Maat, que simboliza a verdade e a justiça. O coração deverá equilibrar o prato da balança de forma a evitar a condenação. Cabe ao deus Thot, deus da escrita e e criador de toda a cultura, lavrar em tábua o veredicto. Caso o morto seja condenado, este é atirado a Amentis ou Babai, o monstro devorador com cabeça de crocodilo. Se for absolvido tem liberdade para avançar para as nove câmaras seguintes onde se dará a sua exaltação.

A Porta que não tem porta


Esta noite tive um sonho. Vi-me a entrar numa espiral que me levou às profundeza de um sítio que não reconheci. Estava escuro. Era como se tivesse entrado num quadro pintado apenas com uma escuridão visível. Senti-me confuso, como um barco à deriva no imenso oceano, mergulhado em nevoeiro. Tentei perceber mais uma vez onde estava, se este espaço era fechado ou aberto. Paredes... apenas encontrei paredes frias e ásperas. Entrei em pânico e desatei a correr desalmadamente enquanto os meus olhos procuravam freneticamente uma saída. Foi aí que vislumbrei a silhueta de uma pedra irregular, de faces rugosas e assimétricas, que ladeava aquilo que parecia ser uma saída. Trespassei essa passagem e cruzei-me com um homem idoso que prontamente me abordou. Disse chamar-se Hiram e fez-me ver um longo caminho que se estendia até um cume encimado por um cubo de pedra ladeado por uma acácia. Questionei-o, confuso, sobre aquilo os meus olhos apreendiam ao que ele me respondeu:
- Este é caminho para encontrar a Porta que não tem porta.
Foi então que acordei e finalmente compreendi. A gruta escura representa as limitações que inconscientemente ou não impomos a nós próprios. Ao despirmo-nos de preconceitos, num espírito de aceitação e procura, encontramos a entrada para o progresso e aperfeiçoamento, onde somos como uma pedra que nunca foi trabalhada. O caminho para o conhecimento e para a sabedoria é longo e infinito. Possui muitas barreiras impostas pelos nossos defeitos. Nunca atingiremos essa mentira da vida que é a perfeição mas vale a pena tentar chegar lá perto.
Em relação à "Porta que não tem porta", deixo-a em aberto. Retomarei este tema noutra altura.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Morte - Um ponto de vista biológico


Iniciarei hoje um ciclo de três post dedicados à morte.
Só por si trata-se de um tema complicado e controverso, dado que associamos sempre à perda de um ente querido. Neste primeiro post irei apenas focar os aspectos biológicos.
Desde a antiguidade que o tema da morte, não só nos atormenta, como também tem suscitado questões várias. Ainda hoje a morte é vista como algo instantâneo e não me refiro apenas à questão da morte súbita. De facto a morte, biologicamente falando, não é algo que se inicia e termina num único instante. Trata-se sim de um processo complexo de duração variável. Este processo pode ser dividido em 4 etapas. Inicia-se com a fase da morte aparente, onde as funções vitais diminuem até quase à extinção (cessação aparente dos sinais e funções vitais). Segue-se o período de morte relativa. Aqui há um prolongamento da agonia e a suspensão efectiva e duradoura das funções nervosas, respiratórias e circulatórias, sendo ainda possível a sua recuperação (somente nalguns casos) através de manobras de reanimação. Chegamos então ao período morte intermédia., o ponto de não retorno. Não há como voltar atrás. Progressivamente, toda a actividade biológica vai-se extinguindo e qualquer que seja a manobra de reanimação que se utilize será sempre em vão. Finalmente, o fim do caminho. A morte absoluta. Toda a actividade biológica cessou. Apagou-se definitivamente a chama da vida.
Tal como referi anteriormente, a morte dá-se num período de tempo variável, podendo ir de breves instantes até a longas horas de agonia.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Os Alicerces


O ser humano é sombra de dúvida um ser complexo, mas ao mesmo tempo extremamente curioso. Vimos ao mundo cheios de vontade de conquistar, queremos avidamente ir mais além em variados âmbitos da nossa vida quotidiana. No meio académico sonhamos com o dia em que passaremos para o ano seguinte até que, finalmente, acabamos o curso. Nos nossos "hobbies", queremos sempre ir mais além. Eu pelo menos falo da minha experiência de já de alguns anos nas arte marciais onde, como é de conhecimento público, a evolução do praticante é sinalizada por graus (kyu e dan)que são traduzidos pelos famosos cinturões. No seio da maçonaria, o mesmo se verifica. Os obreiros da loja esforçam e trabalham no sentido de elevarem-se a graus superiores.
Esta vontade de ir mais além, de subir de grau é sem sombra de dúvida importante, pois se não existisse não haveria evolução nem progresso. No entanto, acabamos por ser toldados com o nosso próprio orgulho. Como já atingimos um certo grau, deixamos de quer preocuparmo-nos com as nossas aprendizagens anteriores. É muito comum num treino de karaté, aikido outra arte marcial, ouvirmos um praticante dizer: "Eu estou farto de fazer isso. Isso é um exercício/técnica para quem ainda está a aprender..."
Esquecemo-nos portanto das bases. Uma árvore para crescer bastante e ser forte, necessita de criar raízes e caule robustos. Assim como uma árvore cresce a partir da raiz, ou como qualquer núcleo atómico resulta do agrupar de vários núcleos de hidrogénio (elemento químico mais pequeno do universo), assim são as nossas aprendizagens. O que está mais além não passa de um prolongamento da base. Se não possuirmos boas base, nunca possuiremos verdadeiramente o conhecimento que se segue.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A Pedra Samurai


Iaido, literalmente “caminho do desembainhar da espada”. Esta arte marcial japonesa remonta ao tempo dos guerreiros samurai (sem dúvida imortalizados pelos filmes do mestre Akira Kurosawa) e à arte de matar com um único golpe de sabre. A partir do momento em que se entra no dojo (local de prática), o tempo pára, todas as preocupações mundanas e quotidianas ficaram do lado de fora do dojo, é como se nós morrêssemos e voltássemos a nascer. Então inicia-se uma série de rituais, tais como a a entrada no dojo ou saudação à arma.

Aqui não existem movimentos a mais, tudo tem um propósito, proporcionando-se assim uma grande precisão na execução nos movimentos de corte

À primeira vista esta arte não passa de um conjunto de técnicas que visam apenas derrotar o adversário, matando-o. Durante a execução das Katas (conjunto de movimentos que simulam um combate) lutamos contra um adversário que não existe. Alguém que nos ataca e que nos leva a desembainhar o sabre. Este combate solitário é muito mais do que uma coreografia e do que uma simulação de um combate mais ou menos bárbaro em tempos idos. Com o passar do tempo este adversário vai tomando forma (não, não toma a forma de alguém que não gostamos). Na verdade estas “lutas” possuem um sentido prático que se traduz no nosso ser. Quase inconscientemente vamos, e permitam-me os leitores maçons “pôr a foice em seara alheia” e utilizar uma expressão tipicamente maçónica, “lapidar a nossa pedra bruta” a partir de uma luta interior para derrubar não só os nossos preconceitos como também os nossos defeitos (pelo menos tentar minimizá-los).

Mais uma vez demonstra-se a universalidade dos princípios maçónicos (pelo menos do meu ponto de vista profano). O Iaido, o Aikido, entre outros, oferecem um caminho, não paralelo, mas sim convergente com o do método de aperfeiçoamento maçónico. Todos eles visam o aperfeiçoamento moral e espiritual do homem. Tal como Fernando Pessoa escreveu acerca do segredo maçónico (publicado neste blogue), nas artes marciais este “segredo” é algo intransmissível e pessoal. “É como um espírito, um sopro posto na alma…”. Cabe a cada praticante ir descobrindo-o por si mesmo, se essa for a sua vontade e se tiver o seu espírito aberto nesse sentido.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Anjos e Demónios

Estreia na próxima semana o filme "Anjos e Demónios", baseado no romance literário de Dan Brown. Trata-se de um livro bastante interessante e sem dúvida cheio de acção. Tal como o livro que o sucede, o best-seller "Código de Da Vinci" cuja versão portuguesa foi publicadfa em primeiro lugar no nosso país, apresenta certos factos supostamente históricos que que eu pessoalmente ponho em causa. Os maus da fita desta história são os que, segundo o autor, são arqui-inimigos do vaticano que se vieram vingar. Mas o autor vai mais longe dizendo que a existência desta sociedade secreta remonta à época do renasciemento, tendo como adeptos várias personalidades históricas (ex: Galileu Galilei). Na verdade os Illuminati (mais conhecidos comoc Iluminados da Baviera) foram um movimento maçónico republicano de cuta duração, fundado em 1776 pelo professor e Mestre Maçon Adam Weishaupt. Desde então muita tinta tem corrido com teorias da conspiração baseadas nesta ordem: umas envolvendo os cavaleiros templários e os rosa-cruzes; outras afirmas que a ordem sobreviveu e que influenciou os fundadores dos E.U.A. (sendo que alguns deles, Ben Franklin, Thomas Jefferson..., eram maçons) explicando assim a presença do "olho que tudo vê" em cima de uma pirâmide de base quadrada nos notas de dolar. Ainda nas teorias conspiratórias que envolvem os EUA, há quem vá mais longe dizendo que que o objectivo da ordem é criar uma nova ordem mundial e que pessoas ilustres e influentes dos EUA (ex:George Bush sénior) são Illuminati. Na minha opinião continua a não passar de especulação e de argumento para romances de cariz fantástico. Mas isto é apenas a minha humilde opinião.

Início

Bom após ter publicado alguns textos noutros blogues, finalmente resolvi criar o meu próprio blogue. Trata-se de um espaço aberto à reflexão sobre todo e qualquer tema, com um carinho especial pelas artes marciais. Vou tentar ser regular na publicação de textos, assim como estarei sempre aberto a comentários e sugestões.