Obrigado Mana Jóia! :)
E, libertando um pouco o "bichinho" da bonita tradição académica...
E PARA JÓIA NÃO VAI NADA, NADA NADA?????
TUUUDOOOOOOO!!!!
Este é um espaço dedicado à reflexão sobre variados temas

Seguindo o conselho de um grande amigo meu, decidi ler o livro "O Banqueiro Anarquista" do grande Fernando Pessoa. Meu deus... se não soubesse que o autor faleceu em 1935, diria "a pés juntos" que este livro tinha sido escrito recentemente. É de uma actualidade estonteante. O livro retrata uma conversa de café na qual o banqueiro explica o facto de ser anarquista. Mas não é um anarquista como os outros. Ele é um verdadeiro anarquista, tanto teórico, como prático. Ao longo do texto, ele descreve o seu percurso anarquista, desde que começou a propor-se a seguir este caminho até ao desenvolvimento do "método anarquista". Concluirá o banqueiro que todos devem trabalhar para um mesmo fim, mas separados, de forma a não sucumbirem à pressão social, podendo tornar-se livres do dinheiro, da sua influência e força, através da aquisição da maior soma possível. Isto claro sempre evitando tiranizar os demais ou criar novos tipos de "tiranias". O Banqueiro é alguém que vive de acordo com as suas conclusões e não alguém que conclui de acordo com a sua vida. Trata-se de um texto de um lucidez ímpar, excepcionalmente bem argumentado e justificado, que nos alerta para uma série de temas que serão motivo de alguns post's aqui no blogue. Mas palavras para quê? O melhor mesmo é lerem o livro. 

Tal como prometido, hoje trago novamente o tema da "Porta que não tem Porta". Mumon Ekai (1183-1260), compilou os mais famosos koan ( problemas que o discípulo do zen deverá resolver, mas cuja solução não se atinge pelo pensamento intelectual) e no seu livro Mumonkan - a Porta sem porta, podemos encontrar este excerto:
Milhares de estradas lá vão dar.
Aquele que atravessa essa porta sem porta
Caminha livremente entre o céu e a terra.
Bom tal como os próprios koans, eu serei um pouco paradoxal no sentido em que tentarei comentar este poema recorrendo ao pensamento racional. Para começar, uma porta sem porta só por si já dá que pensar, pois se não tem porta não é uma porta. Confesso que este conceito foi algo que me custou a assimilar a primeira vez que li este poema. O autor deste koan, descreve um estado diferente do normal, onde podemos compreender a Natureza desde a mais ínfima partícula ao maior dos cosmos.Este estado, vulgarmente conhecido como Iluminação prevê uma omnisciência tal, capaz de ser comparada à dos deuses. Saliento desde já que não foi esse o sentido com que eu fiz referência a esta "porta" neste post. Pretendia sim demonstrar que sempre que ultrapassamos dificuldades, melhoramo-nos a nós, lapidamos um pouco mais os nossos defeitos é como se transposessemos uma porta invisível, que não se vê mas que sabemos que a passamos. E claro tal como vem referido no poema muitos são os caminhos. Uns escolhem o caminho oferecido pelas artes marciais, outros o oferecido pela maçonaria e certamente outros escolherão outros caminhos que irão convergir no mesmo ponto do que os anteriores.

Não podia terminar este tema de outra forma senão com uma pequena conclusão da minha autoria ao mesmo. Ao longo de todo o texto salienta-se o facto de o homem ter de viver segundo um conjunto de regras impostos pelos dogmas da sua religião de forma a conseguir a absolvição após a sua morte. Por outro lado, o(s) Deus(es) não aprece com um ser intolerante, que não perdoa e que está ali apenas para castigar. Aparece sim como um ser que proporciona um grande bem-estar e conhecimento sobre tudo. O conceito de "Deus Temeroso", que perdura até aos dias de hoje, existe desde os primórdios do homem que interpretava determinadas acções da Natureza como um castigo divino devido às suas acções incorrectas. Mas nem todo o homem tinha este direito. Apenas o faraó e as pessoas mais abastadas possuíam meios para serem enterradas num túmulo cujas paredes eram cheias de encantamentos que guiariam o morto para a outra vida. A restante população, aquando da sua morte era enterrada no deserto, o qual se "encarregava" da sua mumificação.
Tal como prometido, retomo o tema da morte. O culto dos mortos assim como a preocupação com o que há depois da morte é algo que se perde na imensidão do passado. Ainda que não seja um grande especialista na área, não posso deixar de expressar o meu fascínio pelo Julgamento de Osíris, descrito no Livro dos Mortos.


Iaido, literalmente “caminho do desembainhar da espada”. Esta arte marcial japonesa remonta ao tempo dos guerreiros samurai (sem dúvida imortalizados pelos filmes do mestre Akira Kurosawa) e à arte de matar com um único golpe de sabre. A partir do momento em que se entra no dojo (local de prática), o tempo pára, todas as preocupações mundanas e quotidianas ficaram do lado de fora do dojo, é como se nós morrêssemos e voltássemos a nascer. Então inicia-se uma série de rituais, tais como a a entrada no dojo ou saudação à arma.
Aqui não existem movimentos a mais, tudo tem um propósito, proporcionando-se assim uma grande precisão na execução nos movimentos de corte
À primeira vista esta arte não passa de um conjunto de técnicas que visam apenas derrotar o adversário, matando-o. Durante a execução das Katas (conjunto de movimentos que simulam um combate) lutamos contra um adversário que não existe. Alguém que nos ataca e que nos leva a desembainhar o sabre. Este combate solitário é muito mais do que uma coreografia e do que uma simulação de um combate mais ou menos bárbaro em tempos idos. Com o passar do tempo este adversário vai tomando forma (não, não toma a forma de alguém que não gostamos). Na verdade estas “lutas” possuem um sentido prático que se traduz no nosso ser. Quase inconscientemente vamos, e permitam-me os leitores maçons “pôr a foice em seara alheia” e utilizar uma expressão tipicamente maçónica, “lapidar a nossa pedra bruta” a partir de uma luta interior para derrubar não só os nossos preconceitos como também os nossos defeitos (pelo menos tentar minimizá-los).
Mais uma vez demonstra-se a universalidade dos princípios maçónicos (pelo menos do meu ponto de vista profano). O Iaido, o Aikido, entre outros, oferecem um caminho, não paralelo, mas sim convergente com o do método de aperfeiçoamento maçónico. Todos eles visam o aperfeiçoamento moral e espiritual do homem. Tal como Fernando Pessoa escreveu acerca do segredo maçónico (publicado neste blogue), nas artes marciais este “segredo” é algo intransmissível e pessoal. “É como um espírito, um sopro posto na alma…”. Cabe a cada praticante ir descobrindo-o por si mesmo, se essa for a sua vontade e se tiver o seu espírito aberto nesse sentido.